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Condomínio abandonado em Jacarepaguá (RJ) afunda e é usado como ponto de desova, dizem moradores

Estrutura inacabada da antiga Delfin Imobiliária está afundando sobre solo instável e virou local de abandono de corpos, segundo denúncias de moradores de Rio das Pedras

O Globo
Condomínio abandonado em Jacarepaguá (RJ) afunda e é usado como ponto de desova, dizem moradores Foto: Reprodução

Condomínio abandonado em Jacarepaguá afunda e é usado como ponto de desova, dizem moradores de Rio das Pedras

O que deveria ser um dos maiores empreendimentos habitacionais do Rio de Janeiro transformou-se em um símbolo de descaso urbano, abandono estrutural e insegurança pública. Localizado em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, o antigo conjunto da Delfin Imobiliária — hoje parcialmente soterrado e degradado — voltou ao centro das atenções após relatos de moradores indicarem que o local estaria sendo utilizado como ponto de desova de corpos por milicianos da região.

O conjunto, planejado para abrigar 16 mil unidades residenciais, teve suas obras iniciadas em 1977. No entanto, com a falência da construtora Delfin e o fim do apoio financeiro do extinto Banco Nacional da Habitação (BNH), os trabalhos foram interrompidos ainda nos anos 1980. Apenas 15 prédios de dez andares chegaram a ser erguidos. Desses, cerca de 982 apartamentos ficaram prontos, mas jamais receberam habite-se — o documento que atesta a regularidade para ocupação. Sem infraestrutura básica, os prédios passaram rapidamente a apresentar sinais de deterioração.

Na década de 1990, cerca de seis mil pessoas, majoritariamente vindas da comunidade vizinha de Rio das Pedras, chegaram a ocupar os edifícios, que não contavam com água, energia elétrica ou saneamento. A reintegração de posse ocorreu sem violência, por decisão do então governador Leonel Brizola. As famílias foram transferidas para terrenos vizinhos, que hoje compõem os núcleos urbanos conhecidos como Areal, Areinha e Pinheiro.

Atualmente, segundo relatos dos moradores, toda a área está afundando.

“A portaria e o primeiro andar dos prédios já estão dentro da terra. Todo o Areal e a Areinha também estão assim. As famílias ocupam só o segundo andar das construções. Daqui a 20 anos, vai tudo desaparecer”, afirmou um morador em entrevista ao jornal O Globo.

O problema se agrava por conta do tipo de solo sobre o qual o empreendimento foi construído: uma área de turfa — material orgânico altamente instável e sujeito ao afundamento. Em maio, o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães explicou que, por essa razão, não é possível implantar redes de infraestrutura básica como esgoto, água e vias pavimentadas. A situação foi comparada à da Vila do Pan, também em Jacarepaguá, onde foi necessário construir uma laje para conter o rebaixamento do solo.

Enquanto o destino do esqueleto do condomínio segue indefinido, moradores relatam que o local vem sendo usado por criminosos.

“Ali virou cemitério clandestino, lugar de desova”, declarou um morador, afirmando que, embora tenha brincado no local na infância, hoje teme se aproximar da área. “Tem um rio entre a comunidade e o terreno, mas ninguém mais entra lá.”

A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou que a área é monitorada e que, apenas em 2023, três corpos foram encontrados no local. A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) conduz as investigações para identificar os autores dos crimes e apurar a extensão das atividades criminosas na área.


Moradores de Rio das Pedras e comunidades vizinhas ocuparam prédios do conjunto da Defin Imobiliária, que estavam abandonados — Foto: William de Moura/22-03-1991

Diante do estado de ruína e da insegurança crescente, moradores têm defendido a demolição completa do conjunto.

“Traz muita raiva ver uma construção tão grande, tão bonita, inutilizável”, desabafou um morador, ao comentar o desperdício de décadas de ocupação urbana e investimento perdido.

Procurada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento informou que o imóvel é de propriedade privada e está atualmente sem licença válida, o que impede qualquer intervenção pública direta. A indefinição sobre o que será feito com a estrutura permanece, agravando ainda mais o impacto social e ambiental sobre os moradores do entorno.

O caso escancara o drama de grandes empreendimentos abandonados em centros urbanos, muitas vezes transformados em polos de risco ambiental, degradação estrutural e violência. O Condomínio Interativo segue acompanhando o caso e cobrará posicionamentos oficiais sobre o futuro desta estrutura que, há décadas, deveria ter servido à moradia — e hoje representa um passivo urbano e social.




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