Dois pintores morrem intoxicados dentro de reservatório de água em condomínio de Rio Branco
Profissionais terceirizados desmaiaram por inalação de vapores de tinta e se afogaram no interior de reservatório com 40 metros de altura e parcialmente cheio, no Residencial Via Parque.

Dois pintores morrem intoxicados dentro de reservatório de água em condomínio de Rio Branco
Profissionais terceirizados desmaiaram e se afogaram durante serviço de pintura em espaço confinado no Residencial Via Parque; acidente levanta alerta sobre falhas graves em segurança do trabalho e gestão de riscos em condomínios.
Dois trabalhadores terceirizados morreram na tarde de quarta-feira (12), em um grave acidente de trabalho ocorrido no interior de um reservatório de água elevado no Residencial Via Parque, condomínio localizado no bairro Floresta Sul, em Rio Branco (AC). As vítimas, dois pintores que realizavam manutenção na estrutura, teriam inalado vapores tóxicos de tinta em um ambiente confinado, desmaiaram e acabaram se afogando.
Segundo informações do Corpo de Bombeiros do Acre, o reservatório possuía aproximadamente 40 metros de altura e estava com cerca de 50% da capacidade de água no momento do acidente. A estrutura, do tipo elevado, é normalmente utilizada para garantir o abastecimento hídrico dos moradores por gravidade. O acesso interno, limitado e de difícil ventilação, exige protocolos rigorosos de segurança — o que, aparentemente, não foi seguido de forma adequada.
Inalação de vapores e falha em equipamentos de proteção
De acordo com testemunhas e relatos preliminares das equipes de resgate, os trabalhadores teriam iniciado o serviço de pintura no interior da estrutura sem ventilação forçada e, possivelmente, sem o uso de equipamentos de proteção respiratória adequados, como máscaras com suprimento de oxigênio ou sistema autônomo de respiração.
A concentração de vapores químicos provenientes da tinta utilizada pode ter gerado um quadro de hipóxia (falta de oxigênio no cérebro), levando os dois profissionais à perda de consciência. Sem reação, ambos caíram na água acumulada dentro do reservatório e morreram afogados.
Resgate mobilizou equipes especializadas
O resgate das vítimas foi realizado por uma equipe especializada do Pelotão Náutico do 2º Batalhão dos Bombeiros, que utilizou técnicas de mergulho e equipamentos específicos para ambientes de acesso restrito e visibilidade limitada. Segundo os militares, a complexidade da operação exigiu o esvaziamento parcial do reservatório e uso de cordas para a descida e retirada dos corpos.
Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para exames que devem confirmar a causa da morte, incluindo possível intoxicação por solventes químicos.
Condomínio se manifesta e aponta terceirização
Em nota, a administração do Residencial Via Parque lamentou profundamente o ocorrido e informou que os trabalhadores pertenciam a uma empresa terceirizada contratada exclusivamente para a manutenção preventiva dos reservatórios de água do condomínio. A gestão condominial afirmou estar colaborando com as autoridades competentes e fornecendo todas as informações necessárias para a apuração do caso.
O condomínio destacou ainda que não havia moradores em risco e que o abastecimento de água não foi comprometido durante a ocorrência.
Acidente reforça necessidade de rigor em ambientes confinados
A tragédia reacende o debate sobre a segurança do trabalho em espaços confinados, especialmente em serviços terceirizados contratados por condomínios. Segundo a Norma Regulamentadora nº 33 (NR-33) do Ministério do Trabalho, qualquer atividade realizada em ambientes com entrada e saída limitadas, como reservatórios, exige a adoção de medidas rigorosas de controle de riscos.
Entre os requisitos previstos estão:
- Análise prévia da atmosfera do local (com detecção de gases tóxicos e nível de oxigênio);
- Uso de equipamentos de proteção respiratória com fornecimento de ar independente;
- Ventilação forçada durante toda a operação;
- Monitoramento externo com sistema de comunicação ativa;
- Treinamento específico dos trabalhadores e plano de emergência.
Caso essas normas não tenham sido obedecidas, a empresa terceirizada poderá responder civil e criminalmente, além da responsabilização administrativa perante o Ministério do Trabalho e órgãos de fiscalização.
Casos semelhantes reforçam alerta nacional
Este não é um caso isolado. Situações semelhantes já ocorreram em diferentes regiões do país, como em Jundiaí (SP), Uberlândia (MG) e Andradas (MG), sempre envolvendo trabalhadores que atuavam na limpeza ou pintura de reservatórios e acabaram intoxicados por vapores tóxicos. Em todos os casos, a falta de ventilação e o uso inadequado de EPIs foram apontados como causas principais.
Especialistas em segurança do trabalho apontam que, infelizmente, ainda há negligência recorrente na contratação de serviços terceirizados por condomínios, sobretudo quando o foco é a redução de custos sem a devida exigência de comprovação técnica da empresa executora.
Investigações seguem em andamento
As investigações estão sob responsabilidade da Polícia Civil do Acre, com apoio da perícia técnica e, possivelmente, da Superintendência Regional do Trabalho, que deverá apurar se houve descumprimento de normas de segurança. Caso confirmadas as irregularidades, tanto a empresa contratada quanto os responsáveis técnicos podem ser autuados por negligência e omissão de medidas obrigatórias de proteção.
O caso segue em apuração, e novas informações deverão ser divulgadas nos próximos dias.
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