Roubo de carros em condomínio expõe lacunas entre seguros residencial, condominial e veicular
Especialistas destacam importância da análise das coberturas de cada tipo de seguro.

🚨 Recentes roubos de carros em condomínio expõe limites entre seguros residencial, condominial e automotivo
A tentativa de assalto registrada em um condomínio de alto padrão em Curitiba (PR), evidenciou as limitações e particularidades das apólices de seguros aplicáveis a residências em ambientes condominiais. O caso, flagrado por câmeras de segurança, ocorreu na última terça-feira (13) por volta das 6h da manhã e trouxe à tona um tema sensível: afinal, em casos como esse, qual seguro deve ser acionado?
🕵️♂️ O caso: invasão, fuga e roubo de veículo de luxo
Segundo as investigações da Polícia Militar do Paraná (PMPR), os criminosos passaram a madrugada escondidos no terreno da residência, após terem aberto um buraco no muro que delimita o condomínio. Na tentativa de invadir a casa, os assaltantes foram surpreendidos pela reação rápida do morador, que percebeu a movimentação suspeita e se trancou em um dos cômodos.
Sem conseguir acesso à parte interna do imóvel, os criminosos decidiram fugir levando o veículo da família, um Jaguar de alto padrão, que estava estacionado na garagem da residência. Poucas horas depois, o carro foi localizado abandonado em uma casa simples no município de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Não houve registro de feridos ou agressões, tampouco de danos internos à residência.
Seguro condominial não cobre bens dos moradores
A situação gerou debate sobre as responsabilidades securitárias envolvidas em crimes dessa natureza. Conforme explica o Sindicato das Seguradoras do Paraná e de Mato Grosso do Sul (Sindseg PR/MS), o seguro condominial, que é obrigatório por lei (conforme o art. 13 da Lei nº 4.591/64), cobre exclusivamente áreas comuns do condomínio contra riscos como incêndio, explosão, queda de raio e danos elétricos. Em geral, bens de uso exclusivo dos moradores, como veículos e objetos pessoais, não estão incluídos nas coberturas padrão.
Entretanto, dependendo das cláusulas adicionais contratadas na apólice, pode haver previsão de cobertura para danos a muros, portões ou cercas, como é o caso do buraco feito pelos criminosos na tentativa de invasão. Esse item, contudo, deve estar expressamente previsto na apólice, sob pena de não haver reembolso ou indenização.
Seguro residencial: cobertura para roubo, mas com limites
Já o seguro residencial poderia ser acionado caso houvesse prejuízos materiais dentro da casa, como o furto de móveis, eletrodomésticos ou eletrônicos. Nessa situação específica, os criminosos não chegaram a adentrar a residência, e, portanto, não houve danos internos que justifiquem acionar a apólice residencial.
Importante destacar que, mesmo nos seguros residenciais mais completos, a cobertura de roubo só é válida mediante vestígios de arrombamento ou rompimento de barreiras, o que geralmente é avaliado pela perícia da seguradora.
Seguro automotivo: única alternativa viável neste caso
Como o bem subtraído foi um automóvel, a cobertura mais adequada e acionável é o seguro veicular privado, desde que estivesse vigente e com a cobertura compreensiva (roubo, furto, colisão e incêndio). Nesse tipo de cobertura, é possível solicitar a indenização integral caso o veículo não seja recuperado ou apresentar os custos dos danos caso ele seja encontrado com avarias.
Como o Jaguar foi recuperado sem registro de danos, não se sabe se houve necessidade de acionar a seguradora — nem foi informado se o proprietário possuía seguro ativo.
Responsabilidade do síndico e orientações legais
O Sindseg PR/MS orienta síndicos a contratarem coberturas de responsabilidade civil, que protegem a gestão em casos de alegações de negligência, como omissão na contratação de seguros específicos, falhas na segurança ou ausência de manutenção predial.
Segundo especialistas, a responsabilidade do síndico só pode ser configurada se for comprovada a negligência na gestão do risco — por exemplo, não contratação de seguro obrigatório, ausência de portaria, câmeras inoperantes ou muros comprometidos.
Além disso, cabe à administração do condomínio manter um histórico atualizado das apólices contratadas e realizar revisões periódicas das coberturas, avaliando a necessidade de extensão para riscos mais específicos, como roubo qualificado e atos de vandalismo.
Crescimento da contratação de seguros
A crescente sensação de insegurança e a valorização patrimonial em condomínios de médio e alto padrão têm impulsionado o mercado de seguros no estado. Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), apenas nos dois primeiros meses de 2025:
O seguro condominial cresceu 38,1%;
O seguro residencial aumentou 11,1%;
E o seguro automotivo avançou 3,7%.
Os números reforçam a percepção de que moradores e administradores estão mais atentos à proteção dos bens e à segurança jurídica diante de situações inesperadas.
Segurança patrimonial: um dever compartilhado
O caso em Curitiba reforça a importância da análise detalhada dos contratos de seguro e a implementação de políticas robustas de segurança condominial. Portarias 24h, câmeras de alta resolução, cercas elétricas e alarmes monitorados são medidas preventivas essenciais — mas não substituem a necessidade de seguros compatíveis com o valor dos bens protegidos.
Síndicos e administradoras devem investir em treinamento, revisão de apólices, atualização das normas internas e diálogo constante com moradores para assegurar uma convivência mais segura e juridicamente resguardada.
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