Idosas resistem à pressão de construtora em Fortaleza e recusam proposta milionária por imóveis
Elisier e Marta se mantêm firmes em seus lares após décadas de convivência no mesmo prédio, enquanto construtora tenta erguer edifício de luxo e oferece valor abaixo do mercado.

Idosas resistem à pressão de construtora e se recusam a deixar apartamentos em Fortaleza
Duas moradoras de um prédio residencial em Fortaleza (CE) se tornaram símbolo de resistência diante da crescente pressão de uma construtora interessada em erguer um novo edifício de alto padrão no local. Mesmo com a maioria dos vizinhos já tendo aceitado a proposta, as idosas Elisier e Marta permanecem em seus lares, onde residem há décadas, e se recusam a assinar qualquer acordo que não contemple a realidade do mercado imobiliário da região.
O imóvel está localizado em um dos bairros mais valorizados da capital cearense, o que tem despertado o interesse de construtoras para novos empreendimentos de luxo. De acordo com as moradoras, a proposta oferecida pela empresa — no valor de R$ 450 mil por unidade — está muito abaixo dos valores praticados na região, onde apartamentos similares podem custar entre R$ 900 mil e R$ 1,2 milhão.
“A gente não é contra a negociação. Só queremos um valor justo, que nos permita continuar vivendo aqui por perto. Não queremos sair do bairro onde construímos nossa história”, disse uma das moradoras em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
Ambas relataram ter sido procuradas diversas vezes por representantes da construtora e afirmam estar sendo pressionadas a aceitar a proposta.
A postura das idosas contrasta com a decisão da maioria dos condôminos, que já fecharam acordo com a construtora. Com isso, o prédio se encontra praticamente desocupado, gerando preocupações quanto à segurança e ao isolamento das duas últimas residentes. Mesmo assim, elas se mantêm firmes na defesa de seus direitos e do valor patrimonial de suas unidades.
O caso reacende o debate sobre o impacto da especulação imobiliária em centros urbanos e os limites legais da atuação de empresas do setor da construção civil em situações de venda coletiva de edifícios. Em muitos casos, os proprietários são pressionados a aceitar valores abaixo do mercado sob o argumento de desvalorização por conta da vacância parcial do imóvel.
Especialistas em direito imobiliário destacam que os proprietários não são obrigados a vender seus imóveis, mesmo quando há maioria favorável à transação. “A propriedade é um direito constitucional. Enquanto não houver acordo unânime ou decisão judicial, o morador tem total respaldo legal para permanecer no imóvel”, afirma o advogado José Ricardo Monteiro, especialista em mediação de conflitos urbanos.
O impasse segue sem solução. Enquanto isso, as moradoras aguardam uma nova proposta que respeite não apenas o valor financeiro, mas também a dignidade e a trajetória de vida construídas no imóvel. A situação também chama a atenção de organizações que atuam na defesa do direito à moradia e contra a gentrificação descontrolada nas cidades brasileiras.
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