Disputa, renúncia e liminar: eleição para síndico gera caos no Cajupiranga Condomínio Clube (RN)
Moradores denunciam ameaças, irregularidades e interferência de construtora em votação marcada por tumulto e judicialização em Parnamirim.

Crise na gestão: eleição para síndico do Cajupiranga Condomínio Clube é marcada por confusão, denúncias de irregularidades e judicialização em Parnamirim (RN)
A eleição para escolha do novo síndico do Cajupiranga Condomínio Clube, localizado em Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal (RN), se transformou em um impasse jurídico e administrativo após uma série de denúncias e protestos por parte dos moradores. O processo, iniciado em março deste ano, deu origem a uma disputa acirrada que escancarou conflitos internos, falta de transparência e possível interferência externa na condução da gestão condominial.
Segundo relatos de condôminos, a assembleia realizada no dia 25 de março foi marcada por desorganização, tumulto e condutas que, de acordo com os próprios moradores, violam a convenção do condomínio. Entre as principais irregularidades apontadas estão o uso de procurações supostamente irregulares, a participação de condôminos inadimplentes na votação — o que contraria as regras estatutárias — e, sobretudo, denúncias de coação.
Um vídeo registrado por um dos presentes mostra um momento tenso em que um morador afirma, durante a assembleia, ter votado sob ameaça. A gravação circulou nas redes sociais e gerou indignação entre os demais condôminos, que passaram a questionar não apenas a lisura do processo eleitoral, mas também a legitimidade dos resultados.
Além disso, moradores levantaram suspeitas sobre o papel da construtora FM Empreendimentos, que, segundo informações divulgadas, ainda possui cerca de 70 lotes dentro do condomínio. A elevada concentração de unidades sob o domínio da empresa, com direito a voto proporcional, teria influenciado de maneira determinante o desfecho da eleição.
"Como garantir imparcialidade se o advogado da atual gestão também representa a própria construtora?", questionou um dos condôminos em entrevista ao portal local.
Diante do agravamento da crise, mais de 80 moradores abandonaram a assembleia em protesto contra a condução dos trabalhos. O encontro, inicialmente previsto para poucas horas, se estendeu até as 3h da madrugada, sem consenso entre os presentes.
Como resposta à instabilidade, um grupo formado por 183 condôminos organizou um abaixo-assinado, constituindo uma Comissão Eleitoral independente para convocar uma nova assembleia e realizar novas eleições. A proposta se baseou em artigo da convenção que permite convocação com apoio de pelo menos um quarto dos condôminos adimplentes.
A nova eleição foi marcada para o dia 7 de junho. No entanto, dias antes da votação, a então síndica renunciou ao cargo, sendo automaticamente substituída pelo subsíndico Mateus Fontes, conforme previsto na convenção. Apesar da movimentação para renovar a gestão, uma liminar judicial suspendeu a eleição convocada pela comissão, impedindo a continuidade do processo.
Em nota divulgada nas redes sociais, Gildásio Andrade, presidente da comissão eleitoral formada pelos moradores, afirmou que a decisão judicial foi influenciada pela construtora e pela atual administração.
"Fui eleito em assembleia de forma unânime para conduzir esse processo, que ocorreu dentro dos parâmetros legais. A suspensão é um golpe contra a vontade coletiva dos moradores", declarou.
Outro ponto de controvérsia gira em torno do registro da ata da eleição de março, que teria sido formalizado no cartório do município de Major Sales, a mais de 400 km de distância do condomínio. A escolha do local levantou suspeitas sobre a tentativa de dificultar a impugnação do documento ou esconder inconsistências no processo.
Procurado pelo Blog do BG, o atual síndico Mateus Fontes afirmou estar em diálogo com representantes dos moradores e busca uma solução pacífica:
“Nossa intenção é realizar uma nova assembleia legítima e pacificadora. Chegamos a uma direção em que as coisas devem se resolver com transparência e diálogo”, declarou.
A FM Empreendimentos, citada nas denúncias, não se manifestou até o momento da publicação desta matéria. O espaço segue aberto para posicionamento oficial da empresa.
Enquanto isso, o Cajupiranga Condomínio Clube segue sob tensão, aguardando os desdobramentos judiciais e administrativos para que, enfim, seja restabelecida a ordem, a legalidade e a confiança na gestão condominial.
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