Marcondes Bernardo

Incêndios em Condomínios nos Últimos 5 Anos: Causas, Prevenção e Obrigações Legais
Falhas elétricas, uso incorreto de equipamentos e negligência na manutenção elevam o risco de incêndios nas edificações residenciais brasileiras

Incêndios em Condomínios nos Últimos 5 Anos: Causas, Prevenção e Obrigações Legais
Nos últimos cinco anos, os incêndios em condomínios residenciais se tornaram um alerta crescente no Brasil. Embora o tema já seja objeto de legislação específica, a negligência na manutenção preventiva, os maus hábitos no uso de equipamentos e a ausência de cultura de segurança ainda são fatores recorrentes nas ocorrências.
Neste artigo, analisamos os principais motivos dos incêndios, como preveni-los e quais obrigações legais recaem sobre os condomínios e seus gestores.
1. Principais causas
Segundo a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), mais da metade dos incêndios residenciais no Brasil são causados por falhas elétricas, geralmente associadas a:
- Sobrecarga de circuitos;
- Uso inadequado de "benjamins" ou extensões;
- Fiação antiga ou fora da norma ABNT NBR 5410.
Outras causas frequentes incluem:
- Panelas esquecidas no fogão ou uso de gás GLP fora dos padrões;
- Equipamentos elétricos ligados sem vigilância;
- Instalações improvisadas em áreas gourmet e varandas;
- Carregadores de celular conectados por longos períodos, principalmente sobre sofás, colchões ou roupas.
⚠️ O uso de carregadores de má qualidade ou o hábito de deixá-los conectados após carga completa tem provocado incidentes por superaquecimento ou curto-circuito, segundo especialistas da Offire e da própria Abracopel.
Esse cenário ocorre também em condomínios de médio e alto padrão, inclusive em Pernambuco e outros estados do Nordeste, onde muitas edificações ainda não possuem sistemas atualizados de proteção passiva e documentação regularizada.
2. Como evitar incêndios em condomínios
A prevenção é uma responsabilidade compartilhada entre gestão, moradores e prestadores de serviço. Algumas ações essenciais:
a) Manutenção preventiva e inspeções técnicas
- Contratar empresas habilitadas para revisar instalações elétricas (conforme NBR 5410);
- Revisar e manter extintores, mangueiras, hidrantes, alarmes e portas corta-fogo com laudos técnicos válidos;
- Verificar o sistema de para-raios (obrigatório em prédios verticais).
b) Projeto técnico de segurança contra incêndio
- Implantar ou revisar o Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) aprovado pelo Corpo de Bombeiros;
- Garantir rotas de fuga sinalizadas, portas corta-fogo com fechamento automático, iluminação de emergência e ventilação de fumaça;
- Seguir a ABNT NBR 9077 (saídas de emergência).
c) Conscientização dos moradores
- Campanhas internas sobre riscos cotidianos:
- Panelas no fogão sem vigilância;
- Equipamentos elétricos ligados por longos períodos;
- Carregadores conectados continuamente, inclusive durante a noite;
- Uso excessivo de extensões e “benjamins”;
- Obstrução de rotas de evacuação com objetos nas escadas e corredores.
d) Treinamento da equipe e brigada de incêndio
- Constituição de brigada interna conforme a NBR 14276/2006, com simulações e plano de evacuação;
- Treinamento da equipe de portaria, zeladoria e limpeza para primeiros atendimentos e manuseio dos equipamentos.
3. Obrigações legais do condomínio
A gestão condominial deve atender às seguintes exigências legais:
a) Seguro obrigatório
- De acordo com o art. 13 da Lei 4.591/64 e o art. 1.348, IX do Código Civil, é obrigatório contratar seguro contra incêndio das áreas comuns, com laudo técnico atualizado.
b) AVCB – Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros
- Documento que comprova o cumprimento das normas de segurança.
- Renovação periódica (geralmente a cada 3 anos), conforme legislação estadual.
- Ausência do AVCB pode gerar multas e interdições.
c) Normas técnicas aplicáveis
Além da NBR 5410, o condomínio deve seguir:
- NBR 14276/2006 – Brigada de incêndio;
- NBR 9077/2001 – Rotas de fuga;
- NBR 13714/2000 – Sistemas de hidrantes;
- Normas do INMETRO e do CBMPE (Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco).
d) Responsabilidade do síndico
- O síndico responde civil e criminalmente por negligência em segurança.
- Deve manter projetos, laudos e manutenções atualizados e promover transparência com os condôminos.
4. Recomendações específicas para Pernambuco e região Nordeste
Na prática regional, é comum encontrar:
- Falta de brigada constituída;
- Instalações elétricas sem revisão periódica;
- Seguros contratados apenas para “cumprir tabela”, sem cobertura real.
Recomenda-se:
- Contratar empresas locais e especializadas;
- Promover assembleias específicas sobre segurança predial;
- Criar campanhas educativas com QR Codes para vídeos e planos de emergência;
- Incentivar formação continuada de síndicos sobre gestão de risco predial.
Conclusão
A maioria dos incêndios em condomínios pode ser evitada com:
- Gestão preventiva,
- Manutenção técnica rigorosa,
- Conscientização dos moradores.
O uso irresponsável da eletricidade, como carregadores conectados continuamente, é um risco real e crescente.
👨💼 Cabe ao síndico garantir o cumprimento da legislação e a segurança coletiva.
👨👩👧👦 Cabe aos moradores zelar pelo patrimônio comum.
Prevenir é sempre o caminho mais seguro — e mais barato.
📚 Fontes Consultadas
- Abracopel – Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade
- SíndicoNet – Normas, AVCB, brigada e manutenção
- Condorama – Seguro contra incêndio em condomínios
- Offire – Normas estaduais e exigências legais
- Nextin – Normas e plano de emergência
- Condoline – Prevenção prática e rotinas seguras
SOBRE O AUTOR
Marcondes Bernardo | Gestão e Marketing
Sócio-gerente da Ability Serviços, com mais de 20 anos de experiência no setor condominial. Pós-graduado em Gestão de Pessoas e Financeira, é especialista em administração condominial e marketing digital. Apresentador do Ability Cast, um podcast especializado nos setores condominial e imobiliário, onde discute temas relevantes e tendências do mercado.
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