Síndico é eleito no edifício JK sob protestos e acusações de falta de transparência
Assembleia extraordinária que elegeu Manoel Gonçalves foi marcada por tumulto, uso de centenas de procurações e questionamentos jurídicos

Síndico é eleito no Edifício JK sob protestos e acusações de falta de transparência
A eleição para síndico do tradicional Edifício JK, em Belo Horizonte, realizada nesta terça-feira (30), terminou em clima de tensão, protestos e acusações. Manoel Gonçalves de Freitas Neto, de 61 anos, braço-direito da ex-síndica Maria Lima das Graças, foi declarado eleito, apesar dos questionamentos de moradores que contestaram a legalidade do processo.
Mesmo com gritos de “não” em coro, Manoel — que atua no condomínio há 38 anos — assumiu o cargo após quatro décadas de gestão de Maria Lima, afastada por problemas de saúde.
“Eu me elegi, graças a Deus, e acho que todos nós trabalhamos por uma causa em comum: o JK. Sei que muita gente não concorda, mas a divergência é sempre bem-vinda. O importante é que a maioria venceu”, declarou.
A assembleia extraordinária foi marcada pelo uso de mais de 200 procurações, apresentadas por Manoel, mas não exibidas aos demais condôminos. Para muitos moradores, isso comprometeu a transparência da eleição.
“Eles não nos deixam conferir os documentos públicos. Ele tem centenas e centenas de procurações para votar em si mesmo e não deixa nenhum de nós conferir”, criticou o servidor público Leandro Boaventura.
O advogado do condomínio, Faiçal Assrauy, afirmou que as procurações foram conferidas pela comissão eleitoral e que serão disponibilizadas. Segundo ele, naquele momento a prioridade era conter os desentendimentos:
“O problema era o tumulto naquela hora. Não dava para parar tudo para uma pessoa que estava votando contra ficar conferindo centenas de procurações, porque a gente não ia sair do lugar”.
Clima de revolta
Após a votação, o clima era de indignação no auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, onde a assembleia foi realizada. A moradora Julieta Sueldo Boedo relembrou episódios de perseguição em 2021, quando tentou se candidatar em oposição à antiga gestão. Na ocasião, foi alvo de dezenas de interpelações, processos e até de um inquérito. Para ela, mais uma vez a eleição não foi transparente:
“Não teve contagem de voto, nem de procurações, e a mesa era formada pela mesma chapa”.
Moradores relataram episódios de agressão durante a reunião. Segundo Boaventura, uma condômina chegou a ser retirada à força após questionar a condução da votação. Já o advogado do condomínio disse ter sido alvo de ofensas e agressões.
O designer Rafael Silva de Paula também criticou a condução do encontro:
“A mesa determinava e os moradores se manifestavam, mas não eram ouvidos. Aprovavam o que queriam, literalmente. Saí de lá chocado, sentindo até um leve enjoo, tremendo por dentro. Acho que foi a maior palhaçada que já vi na vida”.
Afastamento da antiga síndica
A convocação da assembleia ocorreu devido ao agravamento do estado de saúde de Maria Lima, que administrou o JK por aproximadamente 40 anos e está internada há mais de um mês no Hospital Felício Rocho. Sem perspectiva de melhora, o chamado foi assinado por Manoel, que já exercia a função interinamente.
Tanto Maria quanto Manoel e o condomínio respondem a uma denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por crimes contra o patrimônio cultural, devido à falta de manutenção em áreas tombadas do edifício. A audiência judicial está marcada para o dia 7 de outubro.
Com a eleição sob protestos e as críticas à condução do processo, moradores prometem recorrer à Justiça para questionar a validade do pleito e pedir mais transparência na gestão do condomínio.
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